sábado, 12 de maio de 2012

Momentum



Um conversa recente com a Laura me fez lembrar da época em que todos assistiam Lost. Aquela coisa de esperar o próximo episódio, combinar de assistir junto, criar teorias em volta, passar a semana falando até chegar o próximo episódio e o ciclo recomeçar. Claro, Lost não foi o tempo todo assim, tiveram aqueles que acharam que já tinham entendido tudo e pularam fora do barco, tiveram algumas más decisões durante a jornada, e teve, em especial, uma temporada bem aquém do resto da série, apesar de agregar possibilidades muito interessantes. A série cumpriu sua trajetória e no final deixou um lindo caminho de seus personagens e ótimas lembranças tanto da sua narrativa, quanto das histórias de quem a via.

Nem de longe Lost foi o maior sucesso televisivo já feito. Série investigativas como NCIS, Law and Order e CSI, além de realitys como American Idol superavam em muito os indices da série, mas esse burburinho, essas ligações externas da série, como ARGs, jogos, a Lostpedia e outros, criou um Momentum para a série. Sua audiência fazia parte do processo e, portanto, se sentia mais do que apenas um espectador.



 


Depois dela, tantas outras tentaram seguir o mesmo caminho. Um caminho que antes havia sido guiado por Chris Carter e suas duas séries: Arquivo X e Millenium. Onde o mistério e as dúvidas tinham a mesma força que a relação dos personagens e o que você torcia que acontecesse para cada um deles. Um dos inventores de Lost, J. J. Abrams passou a ser o alvo das maiores especulações. O cara que devia ser buscado para o novo acerto. Com Undercovers e Alcatraz a formula não funcionou. Person of Interest parece se segurar, apesar de ter perdido meu interesse no meio da primeira temporada (algo comum para as boas séries dele, onde eu volto depois e descubro que a série ficou muito boa). Mas a que ele criou e que parece ser a que mais funciona de maneira parecida é Fringe (que ironicamente foi criada enquanto Lost ainda passava, assim como Millenium com Arquivo X).

Fringe sobreviveu ao slot da morte da Fox, nas sextas feiras a noite, pelo o amor e dedicação de seus fãs. A série que começou sendo comparada com Arquivo X, no seu esquema Monster of the Week, passou a ter uma subtrama interessantíssima e uma série de pontas soltas funcionais durante suas temporadas. Ainda assim, nem de longe, alcançou o mesmo burburinho de Lost e viveu dias de incerteza para seus fãs.

Séries da HBO e da AMC ( e muitas vezes da ShowTime) são um caso aparte. Primam pelo acabamento, pelo trabalho com a história, pelo trato com os personagens. Mas não conseguiram criar o mesmo feeling. The Killing, que poderia fazer tanto a parte da sensação dos fãs de Lost, quanto o investigativo das séries de maior audiência, acaba ficando lenta (o que eu dou total apoio, já que faz parte do estilo da série) demais para o telespectador padrão. Mad Men e Dexter (da showtime) tem grupos de fãs, mas não criam debates, não faz com que ninguém pesquise, queira participar. True Blood chegou a ter duas primeiras temporadas interessantíssimas e que cativaram a audiência a ficar esperando as noites de domingo esperançosos. Mas a trama começou a ficar insossa com uma quantidade sem fim de novos personagens e com todos os problemas de uma temporada sendo resolvidos naquela temporada. Os personagens ficaram em segundo plano na série. Game of Thrones, outra que cativou as pessoas e fez milhares correrem para ler os livros, criou apenas dois debates: "Tem sexo demais na série?" e "Nos livros não era bem assim...".

Ficou uma lacuna na televisão que não será facilmente preenchida. Não é possível criar uma série como Lost apenas querendo criar. A formula é fácil até: Personagens interessantes com passados ricos e futuros incertos + a história que se quer contar + a maneira que a história será contada + subtramas e relacionamentos para enriquecer o texto e formar conexões + um toque de mistério, para manter o interesse do telespectador na trama e muito subtexto e referências. Mas se for apenas seguir a formula, sairá algo xoxo ou muito calculado, robotizado.

Só posso torcer para não demorar muito para alguém acertar de novo e me deixar empolgado discutindo o último episódio durante a semana.

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