sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Unfamiliar Celling



Qual o tempo para um teto desconhecido se tornar familiar? O que é um teto familiar?

Quando eu assisti Neon Genesis Evangelion a primeira vez, eu era razoavelmente novo. Devia ter uns 17, 18 anos. Vi em VHS de um amigo e me impulsionou não apenas a ver muito mais anime a partir dali, mas a saber ver alguns layers em obras de ficção. Eva (como é chamado pelos fãs) tem vários momentos de apenas ação e comédia na série, mas, quanto mais os episódios passam, mais densos e dramáticos eles ficam, trazendo momentos de reflexão pessoal. Mas este conceito que trago neste post é bem do comecinho da série.

Sair de casa parece um processo natural, uma coisa que tem de acontecer, que faz parte da vida de todos. Alguns saem mais cedo, no exterior então, isto é ainda mais claro, uma vez que no geral, a faculdade que se faz é longe de casa e as pessoas se mudam para dormitórios muito cedo. Aqui isso acontece, mas como a qualidade das faculdades não é lá tão grande, as pessoas acabam escolhendo por proximidade. Então a saída de casa é retardada.

Meu teto é novo, mas eu me acostumei rapido demais. Parece que eu morei na minha casa anos atras. As coisas aqui estão com a nossa cara. A vida começa a tomar uma cara, um caminho. Agora existem as necessidades. É preciso fazer dinheiro, não dá mais para brincar. É preciso fazer as coisas funcionarem, ficarem sempre limpas. Montar a sua casa é das coisas mais divertidas que existem.

O teto ainda não é familiar, mas fica mais e mais a cada momento que passa.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O triste passar do tempo



É no fundo dos olhos das pessoas que se guardam todas as sensações. Quanto mais velho se fica, mais fundo este olhar te carrega. Hoje, conversando com meu pai, vi as preocupações e tristezas de toda uma vida brotarem e encherem seu olhar. A proximidade da morte escancarada pela velhice e deficiência de contemporâneos e o vazio deixado por, talvez, sua grande parceira.

Foi como olhar para um livro aberto de alguém que ainda procura forças para virar  o jogo todos os dias, apesar do corpo já estar pedindo um descanso.Que ainda planeja e espera mais do que o tanto a vida já lhe entregou. E foi difícil não ser arrebatado pela emoção que se passou com ele.

Estou a cada dia um passo mais nesta direção e a vida ainda tem muito para oferecer. É o que a morte, do Sandman tinha como mote: "You get what everyone gets. You get a lifetime". Faça o melhor que puder, seja o melhor que puder, porque isso é tudo que você tem. E no final, a estrada vivida tem de parecer boa, tem de ter sido gostosa, tem de te dar orgulho e deixar um espaço a frente para o desconhecido.

Viver não tem sido fácil e as transformações afetam a todos a nossa volta. Mas é um passo. Sempre um passo a frente.


terça-feira, 2 de outubro de 2012

Don´t Jinx it


Shhhhh!
Não fala! Nem pensa! Não deixa nada entrar no caminho e atrapalhar!
Tá tão perto, é logo mais. Já vai sair. Não fala, deixa acontecer para só ai comemorar.

Seria impossível não postar sobre esse momento. Seria impossível não pensar. Fica na minha cabeça da hora que eu acordo ao final do dia. Todos os dias, há mais de um mês. Encontrar o lugar já foi incrível, o lugar para os dois. Mais um dia. Mais dois no pior. É logo, tá logo ai.

É o fechamento de um ciclo, de um momento. Do Ato I. As costinas vão se fechar, para se abrir novamente num novo cenário. Até aqui foi a transição da infância para a idade adulta. Quando você resolve problema do seu pai porque ele não esta conseguindo lidar, quando você faz o inventário da sua mãe, quando você paga suas próprias contas, você já não é mais o moleque que as pessoas enxergam. A cara de menino, mas a responsabilidade não pode mais ser.

Shhhhh! Não fala para não dar azar.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Sob o domínio do Medo


Cortando o cabelo hoje eu conversava com o barbeiro sobre o ocorrido da foto acima. Uma menina de 12, 13 anos, da torcida do Coritiba, gritou o nome do Lucas, jogador do São Paulo, durante o jogo inteiro. Lucas tendo percebido isso, foi ao encontro da menina e do pai dela no final do jogo e, seguindo o pedido da mesma, entregou sua camisa do jogo para a menina. Um gesto muito legal do jogador e da torcedora, mostrando que mesmo torcendo para outro time, podemos ter nossos ídolos em times rivais. Afinal, Lucas, Neymar, Ganso, Oscar, Damião, e tantos outros, são de times diferentes, mas são o futuro da seleção brasileira, além de serem ótimos jogadores. E quem gosta de futebol quer ver o futebol bem jogado.

Tudo muito certo, tudo muito feliz. A menina recebe a camisa do ídolo, vira as costas e chegam nela alguns trogloditas da torcida do Coritiba. Empurram, puxam, colocam terror, querendo tirar a camisa da menina. Para que? Não sei. Queimar talvez, rasgar, usar para limpar a casa, sei lá. Não importa o que fosse, coisa boa não era. Fora que eles queriam roubar um presente de uma menina de doze anos!

História contada, voltamos a conversa. O barbeiro me dizia que a menina foi boba, que ela tinha de ter se ligado que estava na torcida do Coritiba, não devia pedir a camiseta. E eu falei, mas ela é só uma menina, certamente não pensou haver qualquer mal nisso. E o barbeiro continuou dizendo "Menina? Com doze anos hoje em dias todas elas sabem muito bem o que é sexo" (mudei o que ele disse aqui para manter o texto com indicação livre), "não tem mais boba não", continuou. Isso ficou no fundo da minha cabeça e só montou o quebra-cabeça enquanto eu jantava, horas depois.

Que mundo ruim que estamos fazendo. Uma menina e um ídolo, jogador de futebol, fazem a coisa certa e nós criticamos por ela não ter se tornado uma cínica paranoica? Não vamos em estádios mais por culpa da violência e começamos a achar que temos de levar a violência sempre em consideração, como se fosse a coisa normal de acontecer. Banalizamos o erro a um ponto em que se alguém espera educação e respeito, só pode ser louco, ou estar muito errado.

Fazer uma passagem pelos outros países mostraria o óbvio, a maquina de entretenimento que são os esportes. Prefiro deixar isso para uma outra vez, uma outra situação. Olho mais para a Inglaterra, que tem mais público na championship, a segundona inglesa, do que a nossa série A do campeonato brasileiro e lembro dos tempos dos Hooligans e quanto o país mudou. Depois de uma situação envolvendo os hooligans em um campeonato europeu, a Inglaterra foi banida dos campeonatos europeus por cinco anos. A Inglaterra se arrumou, mudou o esquema do futebol internamente, colocou um monte de câmeras e aplicou penalidades sérias. Aqui as pessoas achariam se tratar do fim do futebol isso, o fim das torcidas. Lá não só acabou com a violência, como trouxe as famílias e o espetáculo de volta ao esporte com estádios lotados e uma liga forte.

Mas esse episódio, mais do que mostrar o que há de errado com o futebol e as torcidas, mostra, na verdade, o que há de errado com a gente e como o absurdo antes era a violência, hoje em dia parece ser a educação e os bons modos.