sexta-feira, 20 de abril de 2012

Amadurecer


Girou a chave e a porta emperrou em algo. Teve de forçar para abrir e o cheiro pútrido invadiu suas narinas. "O que era isso? O que havia acontecido naquele apartamento?" O cheiro era tão forte que o nauseou e ele precisou abrir a janela do hall para deixar o frio ar da rua entrar. Voltou e empurrou a porta com os ombros até escancarar a porta. A cena era aterradora: a luz mal entrava por uma fresta que a cortina deixava no encontro com a parede e deixava entrever o chão coberto de revistas, fotos, cadernos, jogos de tabuleiro, videogames, quadrinhos, roupas... tudo coberto por uma gosma que já era dura em alguns lugares.

A gosma tinha uma coloração ocre, mas reluzia aqui e ali como se as partes que endureciam fossem cristalizando. Vinha dela o cheiro ruim, como se aquilo fosse um vomito vindo direto das entranhas. Cobria todo o chão e era estanho caminhar sobre ela. Adentrou pé ante pé, procurando pisar o mínimo possível sobre aquilo. "Depois que ajudasse ele, seja lá onde ele estivesse dentro deste apartamento, iria dar uma dura jamais se esquecer".

O lugar estava assim, com a cristalização acontecendo por todos os lugares, a gosma espalhada por toda a zona de todas as coisas que ele jamais imaginou que tinha e onde a luz batia nos cristais, uma cor diferente brilhava, mostrando um arco-iris bonito, apesar de toda a podridão.

Quando entrou no quarto, a falta de luz impedia de perceber um palmo a frente. Buscou o interruptor que não funcionou. Andou com cuidado e deu de cara com algo endurecido pregado a parede. Contornou apalpando as bordas com as mãos e abriu a janela. A luz e o calor invadiu o quarto e ele viu uma cristalização gigantesca na parede, como um casulo. O calor da luz do sol batendo sobre este casulo passou a trincar e quebrar pedaços por pedaço do casulo e, quando o buraco era grande o suficiente, um bebe saiu de dentro dele, sorrindo.

A casa estava limpa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário