segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Sob o domínio do Medo


Cortando o cabelo hoje eu conversava com o barbeiro sobre o ocorrido da foto acima. Uma menina de 12, 13 anos, da torcida do Coritiba, gritou o nome do Lucas, jogador do São Paulo, durante o jogo inteiro. Lucas tendo percebido isso, foi ao encontro da menina e do pai dela no final do jogo e, seguindo o pedido da mesma, entregou sua camisa do jogo para a menina. Um gesto muito legal do jogador e da torcedora, mostrando que mesmo torcendo para outro time, podemos ter nossos ídolos em times rivais. Afinal, Lucas, Neymar, Ganso, Oscar, Damião, e tantos outros, são de times diferentes, mas são o futuro da seleção brasileira, além de serem ótimos jogadores. E quem gosta de futebol quer ver o futebol bem jogado.

Tudo muito certo, tudo muito feliz. A menina recebe a camisa do ídolo, vira as costas e chegam nela alguns trogloditas da torcida do Coritiba. Empurram, puxam, colocam terror, querendo tirar a camisa da menina. Para que? Não sei. Queimar talvez, rasgar, usar para limpar a casa, sei lá. Não importa o que fosse, coisa boa não era. Fora que eles queriam roubar um presente de uma menina de doze anos!

História contada, voltamos a conversa. O barbeiro me dizia que a menina foi boba, que ela tinha de ter se ligado que estava na torcida do Coritiba, não devia pedir a camiseta. E eu falei, mas ela é só uma menina, certamente não pensou haver qualquer mal nisso. E o barbeiro continuou dizendo "Menina? Com doze anos hoje em dias todas elas sabem muito bem o que é sexo" (mudei o que ele disse aqui para manter o texto com indicação livre), "não tem mais boba não", continuou. Isso ficou no fundo da minha cabeça e só montou o quebra-cabeça enquanto eu jantava, horas depois.

Que mundo ruim que estamos fazendo. Uma menina e um ídolo, jogador de futebol, fazem a coisa certa e nós criticamos por ela não ter se tornado uma cínica paranoica? Não vamos em estádios mais por culpa da violência e começamos a achar que temos de levar a violência sempre em consideração, como se fosse a coisa normal de acontecer. Banalizamos o erro a um ponto em que se alguém espera educação e respeito, só pode ser louco, ou estar muito errado.

Fazer uma passagem pelos outros países mostraria o óbvio, a maquina de entretenimento que são os esportes. Prefiro deixar isso para uma outra vez, uma outra situação. Olho mais para a Inglaterra, que tem mais público na championship, a segundona inglesa, do que a nossa série A do campeonato brasileiro e lembro dos tempos dos Hooligans e quanto o país mudou. Depois de uma situação envolvendo os hooligans em um campeonato europeu, a Inglaterra foi banida dos campeonatos europeus por cinco anos. A Inglaterra se arrumou, mudou o esquema do futebol internamente, colocou um monte de câmeras e aplicou penalidades sérias. Aqui as pessoas achariam se tratar do fim do futebol isso, o fim das torcidas. Lá não só acabou com a violência, como trouxe as famílias e o espetáculo de volta ao esporte com estádios lotados e uma liga forte.

Mas esse episódio, mais do que mostrar o que há de errado com o futebol e as torcidas, mostra, na verdade, o que há de errado com a gente e como o absurdo antes era a violência, hoje em dia parece ser a educação e os bons modos.

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