segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Citius, Altius, Fortius



Para quantas provas eu comecei a estudar, parei nos primeiros 10 minutos, achei que a matéria estaria me esperando depois e sai para fazer qualquer coisa e nunca mais voltei para a matéria, torcendo para no dia da prova algo tenha ficado das aulas na minha cabeça? E a sensação ao sair derrotado da prova era sempre a mesma: "A prova tava fácil... era só estudar um poquinho..."

O Brasil nestas olimpíadas deve estar se sentindo exatamente como eu nestas provas. Um pouquinho mais de preparo, um pouquinho mais de acompanhamento psicológico, um pouquinho menos de vento. O problema é que não ficamos nem no quase na maioria das vezes. Grandes atestados da nossa maioridade esportiva ficaram no meio do caminho e medalhas que eram "certas" (entre aspas, porque só é certo quando se ganha) caíram por terra. Houveram sim surpresas, como a Sarah Menezes no judô ou o Thiago Pereira finalmente aparecendo do tamanho que era esperado dele. Mas esperar medalhas da natação e do judô vem já há muito tempo e se o investimento é continuo e há procura de patrocinadores, os nomes são destes dois, mas podiam ser de quaisquer outros.

Não sou louco de tirar a força que teve um Cesar Cielo em 2008 e ele, sem dúvida, abriu caminhos. Mas também apontou para o óbvio na época de sua medalha de ouro: Precisou ir treinar nos Estados Unidos para ter chance de competir de igual para igual com as potências nos esportes aquáticos. Isso pode ser visto em diversas modalidades, atletas que não confiam, ou mesmo não tem, uma estrutura para treinar sua modalidade. Alguém que queira joga badminton no país não deverá nem mesmo encontrar quadras que não sejam em algum clube caríssimo.

Você pode dialogar que esporte não é prioridade para um país que não consegue nem mesmo passar nas coisas mais básicas de educação, saúde, ou de infra-estrutura. E eu direi que de fato estas três coisas são muito importantes, mas a prática de esporte também é. Não só importante, como um direito. Defendo a prática de esporte (e a torcida para o mesmo) de muitas maneiras. O mais óbvio é a parte política. Uma nação bem organizada, tem um esporte forte e um esporte forte é sentido nos resultados. Isso foi ridículo de óbvio durante a guerra fria e continua hoje em dia, na disputa das medalhas por China e Estados Unidos. Além disso, trás prestigio a nação e, eventualmente, dinheiro. Afinal, quantos nadadores, tenistas, corredores e etc, mudaram de país para treinar e investiram seu dinheiro no local. São empregos gerados, marcas trazidas para outras nações e investimentos diretos.

Mas mais do que isso, esporte é qualidade de vida. Não é só bom de fazer, é necessário ser feito. Principalmente durante a fase de desenvolvimento. Mas não só. Esporte ajuda a longevidade, ajuda ao bem estar físico e mental. Ajuda também a atividade cerebral, oxigenação e faz bem para desenvolvimento de atuação em grupos, convivência e vida em sociedade. Locais onde o esporte é bem desenvolvido (assim como música) tem grande diminuição em criminalidade. No país, infelizmente, grande parte dos colégios públicos não tem nem mesmo uma quadra poliesportiva, além de faltarem profissionais em diversas áreas e, me pergunto se nas áreas onde temos alguns bons profissionais, uma vez que estes se aposentarem vamos ter continuidade.

Esporte também é entretenimento e capaz de emocionar e tocar diferentes pessoas com situações incríveis, lindos lances e histórias de superação. Esporte é muito mais do que fazer exercício e é extremamente importante. Ganhar copas, campeonatos, medalhas ou olimpíadas faz parte do exercício da competição e não é prioridade, é algo que acontece como consequência de um trabalho bem feito e da integração. E o país da próxima Copa do Mundo de Futebol e dos próximos Jogos Olímpicos de Verão nem mesmo engatinha em possibilitar a sua prática a todos, enquanto gasta rios de dinheiro em ambos os eventos.

O dinheiro gasto nestes eventos poderiam ser investidos em diversas coisas de necessidade básica, seja o saneamento, novos hospitais, equipamentos, preparos, estradas, metros e, por que não, na prática do esporte. Ao invés disso, deixam para a última hora para poderem aprovar quaisquer orçamentos como bem quiserem (sem abrir licitações) porque se trata de uma situação de emergência. Resta-se torcer para que as melhorias feitas para aguentarmos sediar estes eventos sejam duradouras, pois, como vimos no Panamericano do Rio de Janeiro, o que sobra dos centros esportivos são elefantes brancos no meio da cidade que ninguém usará. Afinal, Manaus dificilmente precisaria de um estádio de mais de 40 mil pessoas. Assim como os estádios do centro oeste, sul e até sudeste do país. Salvo o nordeste que lota a maioria dos seus jogos. Ou então ter feito uma obra para o Maracanã abrigar o Pan e ter de fazer uma nova para o mesmo abrigar a Copa do Mundo. Isso falando apenas de futebol. Se formos para outros esportes, chegaremos no Maria Lenk, entre tantos outros.

O país precisa se levar a sério antes de poder se imaginar grande em qualquer esporte (ou em qualquer outra área por assim dizer).

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